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23 de novembro de 2012

Resenha #21 - Paganus - Simone O. Marques



PAGANUS
Autor: Simone O. Marques
Editora: Modo
Data: 2012
Número de páginas: 352 p.
ISBN: 978-85-65588-36-2

SINOPSE
"Portugal, 1673. Duas mulheres celtas e um bebê recém-nascido enfrentam a perseguição da Igreja contra hereges pagãos. Obrigadas a deixar sua aldeia, ajudadas por um jovem cristão, partem em busca de um lugar onde possam cultuar seus deuses livremente. Em meio a sua fuga, descobrem que a Grande Mãe tem uma missão para eles e que levará a lugares inesperados e uma desconhecida Terra Nova."


COMENTÁRIOS
Meu contato com o livro foi por acaso. Participei de um bate-papo com autores nacionais e quando a Simone falou sobre suas obras fiquei muito curiosa. Quem acompanha o MiMos sabe que apesar de comprar constantemente livros de autores nacionais não os leio com a mesma frequência. Quero crer que não é por preconceito, mas sim porque no geral fogem do meu estilo favorito (histórico) e porque estou sempre muito envolvida com longas séries estrangeiras. No entanto assim que vi peguei em mãos Paganus e li a sinopse fui fisgada, não tinha como resistir. Depois de devorar o livro em um dia e meio sabia que tinha que divulga-lo, assim temos hoje a segunda resenha de um livro nacional no MiMos.

Com uma capa belíssima; uma diagramação que impressiona e um enredo forte e envolvente Paganus conquista o leitor completamente. Uma história com elementos históricos, contextualizada em fatos reais e que pode ter acontecido assim mesmo. O cenário é a Portugal de 1660 a 1690, período em que a inquisição e a caça às bruxas estava no auge.

Na primeira parte do livro começamos a história acompanhando uma tragédia que acomete a família Couto, portugueses tradicionais, cristãos e parte integrante da elite. Nesse contexto temos Diogo e Douglas ainda crianças, gêmeos idênticos por fora, mas tão diferente quanto água e vinho por dentro; que enfrentam um drama que vai marcar suas vidas. Diogo é um menino doce e sensível muito parecido em espírito com sua mãe; já Douglas é cruel, insensível e idolatra o pai, um homem duro, mas fraco, que por obra do destino se torna ainda mais amargo e cruel.

Mário saiu caminhando com passos pesados pelo corredor e sabia que precisava conversar com seus filhos. Não podia ter permitido que o vissem demonstrar tamanha fraqueza. Ele tinha filhos homens e sempre os ensinara que homens não choram, não amolecem, têm que ter o comportamento firme e que lugar de ternura é o coração das mulheres, não o deles.” (p. 12)

A narrativa da Simone é forte e marcante e mesmo quando a o enredo nos irrita ou comove é impossível largar.

O tempo passa e Mário é nomeado Dom Mário Couto, responsável pelo extermínio de hereges no entorno da Vila dos Canetos, para onde segue com os filhos já moços.

“- A missão da Igreja é levar a todos a Verdade, converter, arrebanhar... mas há muitos resistentes. [...] Esses hereges precisam de alguém que os convença. [...] – Há aldeias inteiras de hereges e eles estão a nos desafiar.” (p. 22)

É então que o destino os põe a prova e cada um vai ter que descobrir seu caminho. Enquanto Mário e Douglas se satisfazem caçando e matando pessoas inocentes, Diogo se sente cada vez pior e começa a questionar os ensinamentos cristãos. Quando chegam a uma aldeia isolada na floresta para mais um massacre, não imaginam que suas vidas estão prestes a mudar radicalmente.

Esse local é comandado por Gleide, uma mulher forte e poderosa, que segue os preceitos celtas e pode ser cruel para atingir seus objetivos. Ela mora com sua filha Adele, uma jovem que está no final da gravidez e que se destaca pela sua doçura e romantismo o que incomoda sua mãe. Para Gleide as mulheres devem sempre comandar e os homens só existem para servi-las a seu bel prazer e serem descartados. Conceito que sua filha não entende, pois é apaixonada pelo marido.

Quando os Couto chegam à aldeia em busca de pagãos, Adele está em trabalho de parto e a situação foge ao controle de todos. Seu marido é assassinado e o cruel Douglas tenta mata-la. Diogo indignado com a atitude do pai e irmão salva mãe e filha, foge com elas e é dado como morto pela família.

Ele acompanha o parto de Adele e se apaixona pela moça e a criança, Danieli, desde o início. Mesmo contra seus ensinamentos ele fica com eles e partem em busca de um local onde possam viver em harmonia. Tem início uma dura jornada, onde os perigos espreitam a todo instante. Diogo é considerado então um “cristão com coração pagão” e conforme conhece e entende a cultura celta duvida ainda mais da veracidade dos ensinamentos cristãos.

Diogo e Adele vão se conhecendo e envolvendo cada vez melhor e a moça não resiste ao carinho, apoio e amor que o rapaz sente por ela e a filha. Gleide não fica satisfeita com o envolvimento dos dois e tenta separá-los de uma forma vil, no entanto infrutífera.

 “- Diogo... um homem pagão de nossa tribo não tem a propriedade de uma mulher e não pode ter a pretensão de tal. [...] – Deve estar a nosso dispor... entende isso? – ela falou e Gleide se aproximou parando diante dele.
- Senhoras, eu não... – ele se sentia estranho e via suas vontades minadas e controladas pelas duas mulheres que estavam diante dele. Bruxas poderosas e que o tinham nas palmas das mãos. (p. 138)

Enquanto isso na Vila dos Canetos Douglas começa a desconfiar que o irmão esteja vivo e mudou de lado; começa então uma perseguição ainda mais perigosa para os fugitivos. Não tarda e os encontra vivendo em uma aldeia pacífica como um casal com a filha menina. Uma batalha de vontades tem início e somente com muita perseverança eles conseguem vencer.

Na segunda parte do livro temos uma Daniele adolescente e muito sábia, que apesar de viver como uma ‘falsa cristã’ é totalmente voltada aos ensinamentos da Grande Mãe, a Deusa Dana. Ela sabe desde pequena que nasceu com uma missão e vai ter que cumpri-la quando chegar a hora, mas ainda não sabe qual será.

“- Chamam-na de Brasil... – Daniele a olhou e Gleide sentiu em suas mãos que ela descobrira sua missão. – E eu... devo ir para lá. – a neta completou com dificuldade.
[...]
Ela sempre soubera que a neta tinha uma importante missão a cumprir. Acreditava que o destino de Daniele estava nas mãos da grande Deusa, mas não pode deixar de sentir um aperto no peito ao ouvir a revelação [...]” (p. 180)

A narrativa da Simone é tão dinâmica que nos surpreende a todo instante. Quando chegamos a um ponto em que a história parece caminhar para seu final acontecimentos inesperados mudam o rumo da trama e a torna ainda mais intensa.

É o que acontece a partir deste momento, quando Daniele se vê obrigada a ficar noiva e partir da aldeia levando seu irmãozinho para fugir do assédio de um Dom egoísta e mimado. Neste contexto tem-se uma das cenas que mais me emocionou em todo o livro, realmente levou-me às lágrimas.

O que poderia ser o desfecho da história é apenas um fator decisivo para a sua continuidade. Todo sofrimento é o propulsor para que Daniele parta em busca de sua missão e encontre o verdadeiro amor.

É uma obra nacional que recomendo sem nenhum receio, de uma qualidade de narrativa impecável e feita para agradar. Seus personagens são fortes e decididos, dispostos a enfrentar qualquer conflito para alcançar um bem maior.


Saga Paganus
Paganus
Triskle
Tribo de Dana


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8 comentários:

  1. Ai que resenha linda! Adoro esse fundo religioso sabe... Onde se questiona várias coisas. E por ser um romance de pessoas com cultura bem diferentes isso me ganha!! Adorei! A literatura nacional tem arrebentado em suas histórias! Parabéns amiga pela resenha. E parabéns a autora pela obra, parece magnífica e primorosa!

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    1. Gabi, só posso acrescentar: leia, leia, leia já!!!
      É um livro lindo, com cenas intensas e envolventes demais.
      Bjkas,
      Monique

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  2. Querida Monique, conheci Simone há tanto tempo que já nem me lembro. Tenho o livro Paganus, mas quando ainda se chamava Gênese Pagã (pra você ver como nossa ligação é antiga). Assim que tomei contato com a literatura de Simone pensei: "a literatura fantástica nacional está redimida", tamanho foi meu encantamento. Desde aí mantenho contato com ela que para mim não é mais uma revelação com potencial, mas uma escritora concreta, completa e com textos tão poéticos que chegam muitas vezes a doer. Ela é fantástica!

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    1. Ainda no conhecia a obra da autora, mas foi amor a primeira página. Agora vou procurar os outros livros para me deliciar com sua obra.
      Bjkas!
      Monique

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  3. Linda a resenha amiga, deve ser maravilhosa a história, mas não tem muito drama não??????

    Adoro um bom romance e aventura e toda essa história celta, hummmm quero muito ler o livro. Parece excelente deixando o drama de lado.

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    1. Não amiga, o drama não é exagerado. Todas as cenas dramáticas são tão intrínsecas a história que são inevitáveis.
      Bjkas!
      Monique

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  4. Esse está na minha lista faz tempoooo xD

    Beijos e linda resenha!!

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  5. Oii flor!
    :D
    Amei a forma que colocaste a resenha!
    Parece ser um livro legal, mais não é meu estilo ler romances "pagãs" xD

    beijcoas.

    Modaeeu.blogspot.com

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